quinta-feira, 20 de julho de 2023

Lc 9,18-24 – Quem é Jesus para você?



- A nós, a paz de Deus, nosso Pai,
a graça e a alegria de Nosso Senhor Jesus Cristo,
no amor e na comunhão do Espírito Santo.
- Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!

Preparamo-nos para a Leitura, rezando:
Jesus Mestre, que dissestes:
"Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome,
eu aí estarei no meio deles",
ficai conosco,
aqui reunidos (pela grande rede da internet),
para melhor meditar
e comungar com a vossa Palavra.
Sois o Mestre e a Verdade:
iluminai-nos, para que melhor compreendamos
as Sagradas Escrituras.
Sois o Guia e o Caminho:
fazei-nos dóceis ao vosso seguimento.
Sois a Vida:
transformai nosso coração em terra boa,
onde a Palavra de Deus produza frutos
abundantes de santidade e missão.
(Bv. Alberione)

1. Leitura (Verdade)
O que diz o texto do dia?
Lemos atentamente o texto: Lc 9,18-24, e observamos pessoas, palavras, relações, lugares.
Certa vez Jesus estava sozinho, orando, e os discípulos chegaram perto dele. Então ele perguntou:
- Quem o povo diz que eu sou?
Eles responderam:
- Alguns dizem que o senhor é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é um dos profetas antigos que ressuscitou.
- E vocês? Quem vocês dizem que eu sou? - perguntou Jesus.
Pedro respondeu:
- O Messias que Deus enviou.
Então Jesus proibiu os discípulos de contarem isso a qualquer pessoa. E continuou:
- O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto e, no terceiro dia, será ressuscitado.
Refletindo
Quando Jesus pergunta sobre sua identidade, devido à convivência com Ele, os discípulos já têm uma ideia formada. Ouviram tanta coisa, viram muitas outras, sentiram a presença do Mestre, conviveram com ele, pode-se dizer: “fizeram a experiência de Deus” . Não há mais dúvida. Pedro fala em nome de todos com sua forte expressão de fé: “És o Messias!” A partir disso, Jesus se faz mais íntimo: fala de seu futuro sofrimento, de sua morte e ressurreição.

2. Meditação (Caminho)
O que o texto diz para nós, hoje?
A fé em Jesus Cristo que vivemos é para ser comunicada. 
Meditando
Como dizem os bispos da América Latina:
“Desejamos que a alegria que recebemos no encontro com Jesus Cristo, a quem reconhecemos como o Filho de Deus encarnado e redentor, chegue a todos os homens e mulheres feridos pelas adversidades; desejamos que a alegria da boa nova do Reino de Deus, de Jesus Cristo vencedor do pecado e da morte, chegue a todos quantos jazem à beira do caminho, pedindo esmola e compaixão (cf. Lc 10,29-37; 18,25-43). (DAp 32).

3.Oração (Vida)
O que o texto nos leva a dizer a Deus?
Para o Padre Zezinho, scj, Jesus é Luz. Ouçamos e cantemos com ele:

4.Contemplação (Vida e Missão)
Qual nosso novo olhar a partir da Palavra?
Vamos olhar o mundo e a vida com os olhos de Deus. Vamos buscar ver Jesus nas pessoas como Ele se apresenta: Luz, Paz, Vida, Ressurreição, Pastor....

Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.

Ir. Patrícia Silva, fsp





Texto para ajudar a refletir sobre "seguimento de Jesus"
 Texto do Pe. Adroaldo Palaoro, sj 


“...quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9,24)

Depois do percurso quaresmal e pascal, a liturgia nos situa novamente no chamado “Tempo Comum”; trata-se de um percurso contemplativo que nos convoca a fazer caminho com Jesus, realizando sua missão e preparando a comunidade dos seus seguidores. Tendo os olhos fixos n’Ele, viveremos uma longa aprendizagem, deixando que o Mestre da Galileia faça emergir o que é mais nobre e humano de nosso interior. Tempo de seguimento e identificação com Aquele que foi “humano” na sua radicalidade.

No evangelho deste domingo, Jesus deixa claro, para todos nós, o preço do seguimento. Responder à pergunta – “quem dizeis que eu sou? – implica identificação com seu modo de ser e viver. Sua proposta de vida, sua liberdade diante das leis e tradições, seu compromisso com os últimos, sua relação com o Pai... vão provocar conflitos com aqueles que estão “petrificados” em seu modo de viver. E aqueles(as) que se identificam com Ele também vão encontrar oposições, incompreensão e perseguições.

Por isso, ao convidar seus discípulos e discípulas a segui-lo, foi taxativo: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e siga-me”

Que significa “renunciar a si mesmo” - “tomar a cruz de cada dia”? Será que ele veio “complicar” nossa vida com mais peso, mortificação, sofrimento...? Esta afirmação de Jesus parece estar em contradição com outra afirmação encontrada em Mateus: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso”. “Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).

Na vida e missão de Jesus encontramos duas grandes paixões: a primeira, é a paixão pela vida, pelo Reino, pelo compromisso em favor dos mais pobres e excluídos. Em sintonia com o Pai, esta paixão é expressão de uma opção, assumida fielmente por Jesus até o fim.

A segunda paixão é a da “cruz”, imposta pelos poderes religiosos e civis. É a cruz patíbulo, instrumento de tortura, imposta pelos romanos àqueles que ousavam contrariar seu domínio. Ela não é fruto da opção de Jesus e nem do plano do Pai. É a visibilização da violência, do ódio, do fechamento frente à proposta de vida revelada por Jesus.

No grego, “cruz” é “staurós” e significa: prontidão, estar preparado, mobilizado, firme, sólido, estar de pé, ser fiel até o fim...

Jesus não buscou a cruz do sofrimento, o patíbulo, a morte violenta... Ele buscou o “staurós”, ou seja, a cruz da fidelidade, da vida comprometida. Nesse sentido, a “staurós-cruz” é vida aberta, expansiva, oblativa, vida descentrada em favor dos outros. Ela não é um evento, mas um modo de viver, pois perpassa toda a vida de Jesus. “Cruz-staurós” é vivida a partir de uma causa: o Reino.

Assim entendemos a afirmação de Jesus no evangelho deste domingo: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua ‘cruz-staurós’ cada dia e siga-me” (Lc 9,23). Significa esvaziamento do próprio “ego” para viver em sintonia com os outros, sobretudo com os mais sofredores.

Infelizmente, a história da espiritualidade confundiu “cruz-patíbulo” com “cruz-staurós” e acabou gerando uma espiritualidade do sofrimento, da mortificação, da penitência... como se isso fosse agradável a Deus.

Privilegiou-se a “cruz da dor” desligada da “cruz da vida”, do compromisso com o Reino. Tudo isso desembocou numa vivência cristã intimista, farisaica, descompromissada...

Sabemos que o(a) seguidor(a) de Jesus, quando vive a fidelidade à “cruz-staurós”, por causa do Reino, pode encontrar a perseguição, oposição e morte, como o próprio Jesus. Mas Jesus assumiu também a “cruz-patíbulo” e revelou sua máxima solidariedade com todos os crucificados da história. Por isso, esta “cruz” assumida é também visibilização da salvação.

Nesse sentido, a cruz de Jesus e dos seus seguidores não é um “peso morto”; ela tem sentido porque é consequência de uma opção radical em favor do Reino e da vida. Assim, a cruz não significou passividade e resignação; ela concentrou, radicalizou e condensou o significado de uma vida vivida por Jesus na fidelidade ao Pai, que quer que todos vivam intensamente.  

“Jesus morreu de vida”: de bondade e de esperança lúcida, de solidariedade alegre, de compaixão ousada, de liberdade arriscada, de proximidade curadora...

Tanta radicalidade nos surpreende. De fato, hoje, em nossa sociedade, escutamos expressões totalmente contrárias: “cuide-se”, “seja você mesmo”, “aproveite a vida”, “seja o primeiro” ...

São expressões de uma vida centrada no próprio “ego”, ou, “ego-latria”. Tal idolatria reside no próprio interior. O coração humano é uma fábrica de ídolos; há ídolos internos que emergem e que desumanizam, pois rompem todo vínculo e quebram toda relação.

Jesus, em seu convite ao seguimento, nos pediu a “renúncia” de um ídolo especialmente perigoso e sutil: nosso “ego”. Exigiu-nos esquecer dele, negá-lo, não lhe prestar culto, não nos colocar a seu serviço...

Nosso ídolo interior, nosso “ego”, exige culto, sacrifícios, seguidores que lhe sirvam. Por isso, nos agrada que nos louvem, que nos coloquem num pedestal, que nos incensem.

Mas, quando alguém entra no fluxo desta falsa “liturgia”, brotam, imediatamente o veneno do desprezo, da do ódio, da violência, do autoritarismo...

Quando Jesus propõe “renunciar a si mesmo”, na realidade está dizendo: “renuncie a si mesmo como ídolo!”. Ele desmascara essa tendência dia-bólica que nos habita. Quantas vezes nos surpreendemos sendo nós mesmos nossa principal preocupação! Frequentemente nos tornamos o centro, fazendo que tudo gire em torno ao nosso próprio “ego”. Habituamos a nos aproximar das pessoas que nos agradam, que nos bajulam, que compartilham nossos apegos desordenados, que nos dão a razão em tudo, que engordam nosso “ego”.

A partir de nossa ego-latria, vamos criando e alimentando muitos outros ídolos externos, que minam as nossas forças, matam nossa criatividade e esvaziam todo espírito solidário: a busca do poder, da riqueza, da fama, da conquista... Tudo isso nos faz entrar no círculo de morte e destruição de nós mesmos.

A destruição dos ídolos começa por nós mesmos, esvaziando o ídolo de nosso ego. “Renunciar a si mesmo” não é renunciar o que é mais belo que temos recebido: uma personalidade com características únicas, uma liberdade admirável com capacidade criativa, um espírito compassivo e solidário, uma capacidade de relação gratuita... O que Jesus pretende é tirar nosso “ego” de seu recinto individualista e nos situar no amplo espaço do Reino de Deus. Podemos expressar isso numa linguagem tomada da ciência ecológica: Jesus nos chama a abandonar nosso “ego-sistema” para transladar-nos ao “eco-sistema” de seu Reino.

A identificação com Jesus no seu seguimento requer assumir um processo de “morte” e levar a “cruz-staurós” até o fim. É preciso que morra em nós aquilo que não tem futuro, que não é vida, que não é felicidade... O “ego” é pura ilusão, é só uma ficção ou, como dizia Einstein, “uma ilusão ótica da consciência”. Quando ele determina nossa vida, caímos no vazio, pois ele não tem em que se sustentar.

A renúncia à “egolatria” não é uma desgraça ou destruição de si mesmo; pelo contrário, é a oportunidade privilegiada para deixar emergir do nosso “eu original” os recursos mais nobres, as potencialidades de vida que não tiveram chance de se expressar, as beatitudes mais profundas que dão sentido e sabor ao nosso viver. Não se trata de massacrar uma dimensão de nosso ser para salvar outra; trata-se de descobrir uma falha na percepção de nós mesmos; ou seja, com frequência cremos ser aquilo que não somos e vivemos enganados. Trata-se de nos libertar de tudo aquilo que nos ata ao caduco e nos impede elevar-nos à plenitude que nosso verdadeiro ser exige. Este é o caminho da vida que se faz doação, presença, compromisso... vida na fidelidade até o fim.